Alma na gastronomia

Começo meu primeiro texto para a coluna (esperando conseguir… RS… afinal sou de imagens, aromas e sabores). Escolhi falar da alma na gastronomia.

Me lembro quando corria pelo quintal dos meus avós e esbarrava na touceira gigante de alecrim. Aquele cheiro nunca mais saiu da minha cabeça. Esta erva, em italiano chamada rosmarino,  crescem como árvores centenárias naquele país.

Eu ajudava a carregar os baldes de mexerica cravo que meu avô colhia em um velho pé lá dentro do galinheiro, ahh como cheirava bem. Alexandre, com nome de menino e uma generosidade inigualável, lá vinha ele mais tarde com uma baita jarra do suco mais delicioso e azedinho do mundo… Acho que por isso suco pra mim tem que ser sem açúcar.

Com ele também aprendi a escolher tomates, o via brigar com o dono da mercearia quando estavam verdes.  Como meu avô, vou parando e cumprimentando as pessoas a cada metro… Seu chapéu era marca registrada, e hoje fica pendurado na minha sala, um pedacinho da sua história.

Na minha memória daquela casa me vem também o aroma do ragu da Dona Júlia, minha avó, não gostava de panela de pressão e então colocava seu molho no fogo às 6 horas da manhã todos os domingos.

Quando a família toda chegava, os aromas se misturavam… alecrim, manjericão e louro,.muito louro. Outra especialidade  era seu cuscuz paulista… O legítimo, feito no vapor, infelizmente, não deixou sua receita.

A menina que corria pelo quintal e entrava escondida no galinheiro tinha sonhos, ver a alma das pessoas. Pela fotografia consegui, na gastronomia estou caminhando. Bem pequena vivia rodeada de tomates, tinha uma feira bem em frente de casa e uma banca dos mais maduros. Os feirantes, que se tornaram amigos, me sentavam no meio da banca.

Para falar a verdade lembro vagamente de cenas coloridas. A paixão pela gastronomia pra mim tem a lembrança de tudo isso misturado.  Tive o prazer de viver de maneira alegre, subindo em árvores e andando de carrinho de rolemã com meus primos.

Sempre que voltava pra casa ouvia minha mãe contando que tinha vendido uns ovos de pata porque se recusava a cozinhar aquilo rs. No nosso galinheiro tinham patas e muitas galinhas. Muitas vezes, fiquei assistindo em volta de uma banheira de alumínio uma galinha sendo depenada, claro que minha mãe pedia para Dona Teresa, a benzedeira destroncar a pobre.   E eu ficava de olho, só observando.

Acho que tenho memória fotográfica e olfativa. Entrar em uma horta, sentir o aroma da terra molhada, tinha uma na esquina da minha escola, a cena da água brilhando no sol e os aromas, ficaram aqui guardados.

Lembrando em aromas, um tio plantava rosas em Cotia e eu, claro, sempre correndo com meus cabelos de espiga de milho no meio do sonho… Porque parecia mesmo um sonho com tantas flores. Ahh os aromas…

Quando resolvi me especializar nessa área, sabia que minha comida teria que ter alma. Os perfumes cítricos das mexericas e dos limões. As texturas dos alimentos inspiram qualquer apaixonado pelas suas lembranças  a se dedicar pelas nuances de uma boa comida.   Na próxima coluna vou falar das ervas que perfumam e dão um sabor único para qualquer preparação e, de quebra, lindas  fotos  para encher os olhos também.

4 thoughts on “Alma na gastronomia

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    Setembro 1, 2017 at 5:07 pm
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    Parabéns amiga, você é talentosa e desejo muito sucesso!

    Bjs

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    Setembro 1, 2017 at 7:25 pm
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    Minha querida! Quexalwgria ver você trilhando novos-velhos caminhos: coloridos, saborosos, perfumados… cheios de alma! Parabéns!

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    Setembro 2, 2017 at 2:32 pm
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    Isso é sensibilidade, querida! Também, com uma família como a nossa, nao é de se admirar. Parabéns pelo texto e pelo sucesso. Uau!!!!!!!

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    Setembro 5, 2017 at 9:22 pm
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    As nossas memórias afetivas parecem saltar ao ler o texto da Adriana……sucesso na fotografia……..na gastronomia…….e agora nas letras…….sucesso

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