Kaoll traz sua viagem sonora e reflexiva ao Sesc Jundiaí

O palco do teatro do Sesc Jundiaí será nesta quarta-feira (18) o cenário de uma verdadeira viagem sonora com base no rock progressivo inspirada na nova visão do mito de Eva. Os músicos do grupo instrumental Kaoll apresentarão as faixas do álbum “Sob os Olhos de Eva”, baseado no livro homônimo do escritor e mestre em Filosofia, Renato Shimmi, com ilustrações de Zé Otávio.

O espetáculo transmídia, com direito a projeções de imagens e animações, seguida de bate-papo com o escritor, será às 20 horas. Os ingressos gratuitos podem ser retirados uma hora antes na bilheteria da unidade.

Com influências do jazz, blues, rock, erudito, psicodelia e progressivo, o grupo instrumental Kaoll surgiu em 2008 em São Paulo e é formado por Bruno Moscatiello (guitarra); Yuri Garfunkel (flauta transversal); Rodrigo Reatto (bateria); Gabriel Costa (baixo); Janja Gomes (percussão) e Fabio Leandro (teclados).

“Sob os Olhos de Eva” é o quarto trabalho autoral do grupo que também tem em sua discografia os álbuns: Kaoll 04 (2008); Auto-hipnose (2010) e ODD (2014). As seis faixas autorais foram compostas como uma espécie de trilha sonora para os seis capítulos do livro.

Em entrevista exclusiva ao Acontece Jundiaí, o guitarrista Bruno Moscatiello, fundador do Kaoll, explica que esta será a primeira vez da banda na cidade. “Nossa expectativa é excelente já que a estrutura do espaço do Sesc nos permite executar a obra em sua plenitude”, avalia.

Sobre o espetáculo do quarto álbum autoral do grupo, “Sob os Olhos de Eva”, ele detalha que é baseado no livro de Renato Shimmi em que astrilhas sonoras seguem cronologicamente a ordem dos capítulos e são executadas pela banda em formato de quarteto: Bruno Moscatiello (guitarra e violão); Yuri Garfunkel (flauta transversal e viola caipira); Rodrigo Reatto (bateria) e Gabriel Catanzaro (baixo).

“As projeções que ilustram o show, através de videomontagens, utilizam ilustrações do Zé Otávio e trechos do livro. Há ainda uma intervenção filosófica do escritor”, adianta o músico.  Depois do show, ainda haverá distribuição do livro e bate-papo com o escritor.

Os músicos do grupo instrumental Kaoll apresentarão as faixas do álbum “Sob os Olhos de Eva”

Para o escritor de “Sob os Olhos de Eva” (Voice Music) e mestre em Filosofia, Renato Shimmi, o trabalho com o Kaoll construiu para o leitor um elo emocional entre os capítulos que apenas o livro não conseguiria transmitir. Shimmi classifica como intensa a experiência de trabalhar com o Kaoll até pelo contexto político do Brasil na época da produção, o que ajudava a ilustrar algumas ideias do livro. “Isso foi em 2016, quando a polaridade política no Brasil estava sinalizando essa caminhada para algo muito extremo”, ressalta.

Sobre a obra, ele detalha que trata da desobediência como mito fundador dos grandes avanços históricos.  “Conquistas incontestes como a liberdade, voto feminino e propriedade privada, por exemplo, foram sedimentadas a partir da desobediência, do inconformismo e do sacrifício de alguns”, explica.

O escritor destaca que outra perspectiva do trabalho é que, individualmente ou coletivamente, a vida é essencialmente marcada por transgressões que nos fazem crescer. “O que queríamos era, sem ser panfletário, uma musicalidade dinâmica, teatral e emocionante,  que descrevesse as emoções que fazem parte dessa jornada humana em sua busca pela liberdade. O essencial dessa experiência musical está em transmitir um otimismo: a polaridade que divide um povo é parte de um ciclo que podemos e iremos superar, algo adiante irá nos unir”, declara.

Para Shimmi, o conteúdo do livro encontrou, no repertório de conhecimento musical do Kaoll, “todas as cores necessárias para que ele fosse reproduzido como uma viagem sonora e imersiva”. “Vale notar que as animações  que acompanham a apresentação partiram da música”, observa.

Yuri Garfunkel, que assume a flauta transversal e a viola caipira no espetáculo, completa que o livro retrata uma nova visão do mito de Eva, da expulsão do paraíso, mas com um olhar como se ela fosse a primeira revolucionária dentro da raça humana.

“Ela negou o poder imposto em troca de conhecimento e liberdade por isso eles sofreram a expulsão do paraíso e a ideia se repete ao longo da história. Outros temas são a Revolução de Copérnico, Giordano Bruno, entre outros. O legal é que essa parte filosófica que, a princípio, parece complicada, ela fica mais fácil de entender quando você assiste ao show acompanhando as projeções”, avalia.  Yuri completa que a divulgação do show no Sesc está sendo feita com uma arte feita pela artista plástica de Jundiaí, Emília Santos, da Pangeia. “Temos uma parceira com eles. Alguns amigos músicos também estarão presentes então será bem bacana.”

Influências

Musicalmente, Moscatiello afirma que a banda buscou ir além do jazz rock dos álbuns anteriores do Kaoll. “Nos atentamos mais para elementos da música brasileira e latina, apoiados na estrutura musical  progressiva e nas suas inúmeras possibilidades”, define.

Yuri aponta que mesmo sendo música instrumental, a proposta do projeto é aproximar o público por causa das ‘pegadas’ de rock clássico setentista,passagens que lembram música erudita, jazz, música latina americana, afro latina. “É um show bem envolvente. Não são solos intermináveis e tal. Nos esforçamos para passar os conceitos do livro”, esclarece.

Inspiração

Moscatiello, que também assina a maioria das composições, afirma que a inspiração do trabalho está em importantes personagens da história que foram decisivos para grandes revoluções e conquistas sociais através de sua coragem e postura contra o sistema.

“Trata-se de um projeto diferente de tudo o que já tínhamos feito anteriormente. Por suas temáticas atuais e questões que estão sendo debatidas pela nossa sociedade, entendemos que agregaria muito para nossa trajetória. Por outro lado, segue a proposta dos nossos álbuns anterior, o Odd, em que já apontávamos para o nosso descontentamento com sistema vigente”, enfatiza.

 Reflexão

Moscatiello enfatiza que a ideia do livro, do disco e do espetáculo é buscar imergir o publico nessa ‘viagem’ através do tema, ilustrando cada momento histórico e seus protagonistas, propiciando uma reflexão sobre os temas abordados. “O retorno do público tem sido positivo, as pessoas estão discutindo os temas com o escritor e todos serão presenteados pela editora com um livro com um aplicativo para celular e Ipad que reconhece nas ilustrações a trilha sonora. Não é algo inovador, mas é um conceito bastante atual”, diz.

Planos

Para 2018 nossa ideia do Kaoll, segundo Moscatiello, é levar o projeto para o maior número de pessoas e locais possíveis. “Estamos participando de feiras literárias, circulações em bibliotecas com parcerias com equipamentos públicos. A evolução do espetáculo lítero-musical tem sido gradativa nesse sentido, a partir de cada experiência e do retorno do público”, afirma.

Shimmi completa que atualmente várias produções culturais estão reproduzindo o contexto político que vivemos e acredita que é inevitável para a música e literatura. “O meu trabalho com o Kaoll é um esforço humilde nesse cenário. É importante que o público busque reflexões políticas em outras mídias, porque é uma forma de internalização e de formação de identidade política”, analisa.

O mestre em Filosofia acredita que daqui a algumas décadas, as pessoas compreenderão melhor esse momento que vivemos, olhando para o que foi produzido culturalmente, seja na música, literatura ou outras mídias. “Acredito que esse é o grande papel que a música e literatura cumprirão, nos darão um quadro emocional de tudo que estamos vivenciando.”

SERVIÇO

KAOLL

DIA 18, Quarta-feira, 20h

Teatro do Sesc Jundiaí, Grátis

Retirada de ingressos 1h antes na Central de Atendimento

 

ELLEN FERNANDES
Fotos: Divulgação

 

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