Gaitista Clayber de Souza celebra a bossa nova

Ele é um dos melhores. Poucos músicos dominam a gaita como Clayber de Souza, tanto que é considerado um dos dez maiores instrumentistas do mundo. E nesta sexta-feira (27), o público de Jundiaí e Região terá a honra de prestigiar seu talento no show “Eterna Bossa Nova”. O espetáculo, em homenagem aos 60 anos da Bossa Nova e aos seus 80 anos de idade, será às 20h no Teatro Polytheama. Os ingressos custam R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia).

Com um time que não brinca em serviço, ele se apresentará com o Grupo Abre Alas, formado pelos músicos Denise Marim (cantora), Tim Brasil (violonista e cantor) e Odair Marcelo (baterista), além do jundiaiense Marcio Maresia, gaitista que foi seu aluno e que hoje tem seu trabalho reconhecido nacionalmente.

“Vai ser demais. Me orgulha muito saber que a formação dele começou comigo. Ele era um aluno muito assíduo. Depois virou monitor nas escolas, aprendeu tudo e será um honra dividir o palco com ele”, orgulha-se o mestre Clayber de Souza ao falar de seu ‘pupilo’ em entrevista exclusiva ao Acontece Jundiaí.

Para Marcio Maresia, o encontro de gerações é sempre uma oportunidade. “O Clayber tem uma história importante na música, fez parte da bossa nova. É sempre uma uma grande emoção compartilhar o palco, a energia que circula, é uma grande honra poder tocar com ele.”

Marcio Maresia sobe ao palco junto com Clayber para uma participação especial no show

Maresia conheceu Clayber através de uma matéria no jornal Folha de S. Paulo sobre seu curso de aula. “Fiz aula particular com ele em São Paulo durante 1,5 ano. Ele é uma pessoa muito divertida, gosta do que faz. Sempre confiei no que ele transmitia e estudava muito. Ele é uma pessoa muito dedicada, de muito talento que aprendeu a tocar sozinho”, afirma.

O reencontro entre os dois acontece quase 20 anos após e esta será a primeira vez juntos nos palcos. “Faremos uma ponte da bossa nova para o blues. Terá uma música que ele escolheu e outra do gaitista Little Walter, que é de um trabalho em homenagem ao músico que lançarei em breve”, diz.

Do Brasil para o mundo

Com 80 anos, 72 de carreira, apresentações em 35 países, 60 discos gravados, o harmonicista é um dos dez maiores gaitistas do mundo. “No Brasil dizem que sou o melhor na categoria gaita de boca, mas tem gente que toca melhor”, desconversa.

“Eu toquei com todo mundo”, brinca ao comentar sobre suas parceiras na carreira. E foram muitas tanto no Brasil como no exterior. Na terrinha, ele integrou o movimento Bossa Nova na década de 60, no Rio de Janeiro, como contrabaixista – instrumento com o qual também se apresentará em Jundiaí.  Entre os grupos marcantes está Sambalanço , ao lado dos ícones Cesar Camargo Mariano e Airto Moreira;  o Sambrasa ao lado de Hermeto Pascoal; o Sambossa 5, além do Jongo Trio, com Paulo Roberto e Toninho, além de parcerias com no grupo, Airto Moreira, Manfredo Fest e as musas  Maisa e Elis Regina.

“Fiz apresentações pelo Brasil com a Maisa durante quatro meses. Ela tinha uma personalidade muito forte”, comenta. Sobre Elis, na verdade, justifica que participou de um ensaio com a ‘Pimentinha’ no Rio de Janeiro, na época que ela fazia shows na boate Zum-Zum. “Foi bem no período em que o bailarino e coreógrafo Lennie Dale ensinava Elis sobre os movimentos de evolução no palco. Foi algo mágico. Adorava trocar ideia com ela” relembra.

Apaixonado pelo instrumento que lhe encantou desde o primeiro contato, ele relembrou o primeiro contato com a gaita, que transformou sua música e levou sua obra e seu nome para o mundo.

 “Meu pai me levou ao show do Edu da Gaita. Quando eu vi ele tocando, pensei: ‘É isso que quero para mim’. Comecei a tocar gaita em um parque de diversos no Parque Shangai, em São Paulo, em praças públicas, e já ganhava cachê, por isso sou música profissional desde os oito anos. Mas nunca imaginei no que tornaria” declara com orgulho.

Novo trabalho

Entusiasta da arte, revelou ao Acontece Jundiaí que está preparando um novo material autorial como gaitista de boca e que deseja fazer muito mais pela música. “Tenho várias composições feitas do período em que tocava com o César Camargo Mariano e com o Sambossa. Estamos recolhendo o material para gravar um cd ainda este ano”, revela.

Sobre o show em Jundiaí, ele adianta que será um show elucidativo relembrando o surgimento da bossa nova desde 1902 com a precursora Chiquinha Gonzaga. “Desde aquela época já havia o ritmo, a melodia. Não começo nos anos 50. Veio dela, do Pixinguinha, do Zequinha de Abreu. Eles foram trazendo, modernizando até que aconteceu o ápice, a consagração no mundo inteiro”.

Aliás, o gaitista chama a atenção para um dado. “Infelizmente o Brasil é onde menos se toca Bossa Nova. Hoje, 30 por cento da música produzida no mundo tem influência da bossa nova. O nosso país só irá valorizar isso depois que perder”, desabafa.

Questionado sobre qual segredo da longevidade e vitalidade, ele é direto: “Fazer o que gosta, ouvir o seu coração, seguir o seu ideal. Meu ideal sempre foi a música”. Sobre o futuro, ele diz: “quero morrer em cima do palco. Ainda tenho muita vitalidade. Adoro o público, o teatro, tocar, gosto de falar, sou elucidativo.”

 

Serviço

ETERNA BOSSA NOVA

27 de abril (sexta-feira) – 20h

Produção: Moinho de Eventos / Márcio Ferrazzo.

Classificação: Livre.

Gênero: Música.

Duração: 95min.

Ingressos: Plateia R$ 20,00.

Teatro Polytheama

 

Ellen Fernandes
Fotos: Divulgação

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